Golpe de Misericordia #1: Vilões

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por Jorge Caffé (adaptado de texto originalmente publicado na NOW #05 – janeiro de 2018)

Olá sofridos, ingênuos e mal compreendidos Mestres de RPG…

Esta coluna servirá como um escudo contra todas as pedras lançadas contra nós, Mestres.

Ela será sua arma de vingança contra os cães sarnentos e mal agradecidos conhecidos como Jogadores. Aquelas criaturas malignas cujo único intento é destruir e denegrir tudo que você, inocente e dedicado, levou horas e horas para construir.

Seque as lágrimas, companheiro! Os grilhões foram rompidos! Aqui toda a ingratidão será vingada!

Chega de gastar seu tempo em prol da diversão deles, apenas para que eles façam pouco de você!

Está na hora de ser mal! De ser cruel! De arrancar as unhas de seus jogadores com alicates e usarem-nas para furar seus olhos! Vamos dar dor e sofrimentos aos personagens, e ser amados por isso. É batendo que se conquista respeito. Quanto mais se bate, mais se conquista respeito, então, vamos matá-los de pancada, porque isso sim nos diverte. Toda semana destilaremos juntos a superioridade venenosa das verdadeiras pessoas responsáveis pelos jogos andarem: o mestre de jogo. Porque não somos “condutores” de jogos, “anfitriões” de jogos… somos Mestres, com “M” maiusculo, e sabemos o que estamos fazendo!

E para abrir nossa coluna, vamos falar do maior instrumento da fúria do mestre na mesa: O vilão. Eles são nossa personificação, a válvula de escape que usaremos para descontar as mazelas do dia a dia nessa corja exigente que só faz criar combos e faltam sessões de jogo. Mas ainda temos uma vantagem sobre eles: enquanto cada jogador tem um único personagem, nós podemos ter mais de um vilão. Melhor ainda: podemos ter um vilão para cada personagem!

VILÃO MENTOR E VILÃO PARTICIPATIVO

Me matar não é nada perto do que Lorde Ascalagoth fará comigo se souber que eu os ajudei!

Peraí, peraí, meu filho: eu sou um bárbaro de força 20 segurando esse machado enorme na sua frente e com cara de muito poucos amigos. Já quebrei seus dois braços e duas pernas, e se não tiver utilidade nenhuma pra mim, vou só cortar sua cabeça e seguir em frente pro próximo capanga. Então me diz: o que esse Asgargalado faria de pior que isso?

Então, lembra lá no início da campanha quando vocês capturaram aquele goblin ladino e o fizeram contar onde estava o mapa para a Profana Biblioteca de Segredos Ocultos do Lorde Supremo Ascalagoth?

Lembro, claro. Ele nos ajudou, ai dei- lhe umas carinhosas bofetadas e seguimos com nossas vidas. Nós fazendo nossas coisas de pacíficos aventureiros, e ele, suas coisas fofas de goblins trakinas.

Pois é, então: Lorde Ascalagoth, o terrível, senhor dos sortilégios, Detentor do Sono Eterno, Macabro Fazedor de feitiços, magias e unguentos malditos, e blá, blá, blá, quando pôs as mãos no goblin, o surrou até que ele aprende-se a falar alto élfico e pedisse piedade na citada língua. Depois disso, cortou os membros do cara um a um, e com sua magia, fez renascer cada um deles. Depois disso, jogou o cara dentro de um buraco portátil que saía em outro buraco portátil que o jogava de volta no mesmo buraco portátil. ‘Cês ‘tavam no primeiro nível quando encontraram ele né? Pois é, ele só parou quando vocês chegaram ao sexto, mais ou menos. O que isso tem a ver? Juro que não sei. Depois de resgatar o goblin do buraco portátil, Ascalagoth transformou ele em barro e deu para seu bulete de estimação comer. Acha que ele parou ai? Depois que o Bulete se aliviou, ele ressuscitou o goblin no meio das . . . das . . . descargas intestinais do bicho. Nesse momento, o goblin tá copiando toda a biblioteca que vocês destruíram, de cabeça para baixo em uma jaula sobre um fosso de cocatrices. O clérigo de vocês já conjura ressurreição?

Oh clérigo, vê ai no livro se tu conjura ressurreição já. [pausa. sons de páginas passando] Ih rapá… conjura não…

Então. Me entendeu agora?

Primeiramente, vamos deixar claro que aqui o vilão será tratado como dois tipos diferentes: o vilão mentor e o vilão participativo. Existem, obviamente, mais classificações de vilões que podem ser usadas, mas nossa crueldade hoje vai se satisfazer em utilizar esses dois tipos, para dificultar a vida dos nossos inimigos, digo, queridos jogadores. A diferença entre eles é fácil de ser percebida.

O vilão mentor é aquele que fica quase sempre protegido em sua torre ou covil, enquanto comanda toda a sua maldade através de asseclas fiéis ou bem pagos (uma combinação dos dois é sempre infalível e evita que tentativas de suborno, pelos personagens, sejam bem-sucedidas, em alguma situação crítica).

Pense naquele cara tão mau, mas tão mau, que é melhor negar qualquer ajuda aos heróis, mesmo diante da ameaça deles, do que enfrentar a ira de seu mestre. Quando a ideologia e o dinheiro não são o suficiente para garantir a lealdade de seus asseclas, esse cara usa o medo, a coerção e todas as suas agradáveis ferramentas de persuasão. O vilão participativo é o mais divertido para nós. Ele é aquele que aparece frequentemente, perturbando e atrapalhando a vida dos personagens, e de quebra, dá aquela surra básica nos heróis. Este sempre conquista o ódio dos heróis, principalmente quando enfrenta os personagens sozinhos e os vence facilmente.

VILÃO MENTOR

O encontro com esse vilão é raro, ocorrendo apenas no momento máximo da campanha, em uma luta mortal e emocionante. Seu plano mestre pode ser tão mirabolante, que nem você o conhece de início! Você pode sair fazendo acontecimentos aleatórios durante a campanha, e no momento em que for ligá-los, seus jogadores podem não entender, apenas destaque a genialidade de seu vilão sobre a pobre ignorância dos pretensos heróis. Convicção é a alma do negócio.

Os bons vilões sempre têm um grande plano por trás de seus atos. São planos que podem parecer absurdos, se analisados por mentes comuns, mas dificilmente são tão frágeis quanto parecem. Um bom vilão teve toda uma vida e uma trajetória de erros e acertos, e chegou a se tornar alguém poderoso, pode ter certeza de que é uma pessoa inteligente e sagaz. Estes vilões estendem sua rede de influência ao seu favor, enquanto engrenam seus planos. Podem ser vinganças, conquistas do mundo, do universo, qualquer coisa. Estes são os únicos verbetes de um dicionário vilão. Na maioria das vezes, estes são os vilões mentores. Estão ocultos nas sombras, manipulando e jogando, enquanto outros espalham sua vontade pelo mundo.

Na próxima semana, vamos planejar, arquitetar e arruinar personagens, porque se não for pra fazer isso, nem montamos nossa divisória!

Até lá!

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